quarta-feira, 24 de março de 2010

Hermanfrid Schubart na encruzilhada da arqueologia europeia e peninsular da segunda metade do séc. XX

Hermanfrid Schubart na encruzilhada da arqueologia europeia e peninsular da segunda metade do séc. XX*

por

Susana Oliveira Jorge **

É para mim uma honra e certamente uma responsabilidade proferir as palavras de elogio do Professor Hermanfrid Schubart no acto solene de outorga das insígnias de Doutor Honoris Causa que a Universidade do Porto, em boa hora, lhe entendeu atribuir. Devo dizer que o faço com um indisfarçável prazer, na exacta medida em que não só admiro pessoalmente a sua obra, como também penso que a Península Ibérica e, em especial, Portugal lhe deve um tributo que faça jus ao seu exemplar esforço em prol do exercício duma arqueologia científica no nosso país.

· Hermanfrid Schubart nasceu na Alemanha, em 1930, em Kassel (Hessen). Era uma criança quando se iniciou a 2ª grande guerra e um adolescente quando esta terminou. A partir de 1945, na República Democrática Alemã, onde viverá a adolescência e a sua primeira juventude, formar-se-á como arqueólogo.

De facto, em 1953, licencia-se em Arqueologia pré-histórica na Universidade de Leipzig, e, em 1955, com apenas 25 anos, doutora-se na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Greifswald, onde trabalhou como professor adjunto no Instituto de Pré-História e Proto-História, entre 1953 e 1955. A sua tese de doutoramento incidirá sobre o Bronze Antigo em Mecklemburgo.

Cedo se salientou como exímio escavador, tendo, de 1955 a 1957, trabalhado para o Serviço de Escavações Arqueológicas da Pomerânia Ocidental, realizando ali importantes escavações em sítios da Pré e da Proto-História.

Mas, entre 1957 e 1959, Hermanfrid Schubart inicia uma trajectória que o vai levar a Berlim, ao Instituto de Pré e Proto-História da Academia Alemã de Ciência. Aí, sob a direcção do Professor Unverzagt, trabalhou como colaborador científico. Nessa condição, realizou escavações em sítios da Idade do Bronze e da Primeira Idade do Ferro em Mecklemburgo. Foi também nesta fase berlinense oriental que teve oportunidade de viajar por diversos países da Europa setentrional, central e oriental, conhecendo a realidade arqueológica quer em países de leste, quer do ocidente. Durante esses anos, da sua juventude mais madura, foi certamente marcante a formação arqueológica recebida nas instituições alemãs que frequentou, as quais depois da 2ª guerra mundial se separaram – tanto na Alemanha oriental como ocidental – dos preconceitos rácicos dos supostos seguidores de Kossinna. Por essa altura, o jovem investigador Schubart recebeu fortes influências de Gordon Childe e do método de Hans Jürgen Eggers, assim como do materialismo histórico imposto nas universidades da Alemanha Oriental. No entanto, Schubart cedo se distanciou do marxismo de inspiração soviética tanto nos seus trabalhos arqueológicos como na sua posição ideológica e política, o que lhe trouxe naturalmente dificuldades em vários sectores da sua vida profissional e política.

Em 1959, Hermanfrid Schubart, com 28 anos, usando a relativa facilidade com que então se circulava entre Berlim Oriental e Berlim Ocidental, decide passar a viver em Berlim Ocidental nas circunstâncias políticas da época, sem possibilidade de poder voltar à sua região natal de Mecklemburgo e à sua casa paterna em Weimar/Tnúringen. Com essa decisão radical Schubart fecha um primeiro ciclo da sua vida, e inicia, aos 28 anos, uma fulgurante carreira de arqueólogo e académico, na então República Federal da Alemanha e, sobretudo, na Península Ibérica.

Sobre este segundo ciclo da sua vida, tentarei fazer, mais à frente, um breve balanço, particularmente no que toca o excepcional contributo para o progresso da investigação arqueológica em Portugal e Espanha, ao longo da 2ª metade do século XX.

· Quando Schubart se apresenta, em 1959, no Instituto Arqueológico Alemão, em Berlim Ocidental, era então um jovem doutorado com cerca de vinte trabalhos publicados. Ao ser integrado como membro do Instituto, solicita ser colocado numa delegação bem longe de Berlim, de preferência no Próximo-Oriente. Não é sem espanto que ouve oferecem-lhe um lugar em Espanha, na delegação de Madrid do Instituto. Espanha, onde nunca estivera antes, no extremo oposto do Mediterrâneo Oriental que tanto o atraía. Tratava-se duma passagem, sem transição, de leste para oeste, sob muitos pontos de vista.

Estávamos, nos finais dos anos 50, numa fase de “boom” económico na então República Federal da Alemanha. O Instituto Arqueológico Alemão, uma instituição com nome feito, cuja autoridade nos estudos clássicos e orientais lhe tinha permitido sobreviver aos constrangimentos ideológicos do regime nazi, dispunha, nesses anos de ouro do pós-guerra, de meios grandiosos de actuação. A sua política de intervenção continuava mais do que nunca vocacionada para o estudo do Próximo-Oriente e do Mediterrâneo, no seu conjunto.

O Professor Schubart, uma vez chegado a Espanha, em 59, desde cedo adquiriu uma posição institucional importante no interior da delegação de Madrid do Instituto Arqueológico Alemão. De 1967 a 1981 foi sub-director: primeiro, na fase em que o director era ainda Helmut Schlunk, o primeiro director da delegação de Madrid desde a sua fundação em 43 e reabertura em 54; depois, no período em que Wilhelm Grünhagen lhe sucedeu, de 1971 a 1981. Entre 1981 e 1994, Hermanfrid Schubart assume, com reconhecido mérito, a direcção do Instituto Arqueológico Alemão em Madrid, de que se afasta apenas por ocasião da sua jubilação. Durante este longo período, entre 1959 e 1994, envolveu-se, com uma notável eficácia, energia e empenhamento pessoal em todas as actividades de investigação, divulgação e cooperação do Instituto. De salientar o seu papel na promoção de escavações arqueológicas em diferentes pontos da Península, relativas a diversos períodos cronológicos; na dinamização da Biblioteca do Instituto, centro de acolhimento e cultura para todos os que nela puderam usufruir da sua magnífica qualidade; na publicação incessante da incontornável revista Madrider Mitteilungen e dos volumes monográficos dos Madrider Forschungen e Madrider Beiträge; na articulação do Instituto com inúmeras instituições espanholas e portuguesas, fomentando, desse modo, uma inserção sustentada do Instituto, nos meios da especialidade, nos dois países ibéricos; no contributo para a formação de investigadores, nomeadamente portugueses e espanhóis, no âmbito da arqueologia da Península Ibérica.

Finalmente, no seio das suas funções institucionais, será bom não esquecer o enquadramento que Schubart prestou à abertura, em 1971, da filial de Lisboa do Instituto Arqueológico Alemão, cuja direcção foi primeiramente entregue à Doutora Philine Kalb e depois ao Doutor Theodor Hauschild. Até à sua jubilação, em 1994, Hermanfrid Schubart permaneceu atento e eternamente cooperante, sendo um esteio incontornável da delegação de Lisboa do Instituto.

Mas o Professor Schubart foi e é também um admirável investigador e um notável professor.

De facto, em 1971, foi nomeado professor agregado da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Munique, onde, naquele ano, apresentou um importante trabalho de investigação sobre a Idade do Bronze do Sudoeste da Península Ibérica (Schubart, H., 1975). Na Universidade de Munique encarregou-se, ao longo dos anos, de cursos de Pré-História e de Proto-História da Europa Ocidental e Mediterrânica.

Contudo, se me pedirem um balanço, arriscarei dizer que Schubart ficará para sempre ligado à investigação do passado pré e proto-histórico da Península Ibérica. Investigação que exercitou até hoje, continuamente, ao longo de 45 anos. Um tal ciclo de vida, ligado à investigação duma região particular, faz de Schubart um dos melhores patrimónios da Península Ibérica. O seu trabalho sobre o passado ibérico, no quadro do mundo mediterrânico, encontra-se plasmado na publicação de centenas de trabalhos da especialidade, na realização de inúmeras escavações arqueológicas, numa actividade incessante de intervenção em congressos, colóquios, seminários, onde, aliás sempre se salientou por ser um brilhante orador. As várias distinções que obteve até ao momento na Alemanha, em Espanha e em Portugal, espelham, de alguma forma, o reconhecimento que a sua obra merece, a partir de múltiplos pontos de vista.

Sobre a investigação de Hermanfrid Schubart procurarei, neste momento, ainda que de forma muito sucinta, iluminar dois aspectos principais: por um lado, a moldura histórica e conceptual que norteou a sua actividade de pensador; por outro lado, o contributo específico da sua obra para o desenvolvimento do conhecimento do passado pré e proto-histórico da Península Ibérica.

· Hermanfrid Schubart, enquanto arqueólogo, inscreve-se na corrente histórico-cultural, que se constituíu na Europa na primeira metade do séc. XX, e que perdura ainda hoje largamente em muitos contextos científicos.

Tal corrente, que deve muito da sua arquitectura a Gustaf Kossinna, mas que foi amplamente desenvolvida por autores como, por ex., Gordon Childe (na sua primeira fase), pressupõe um audacioso método de detecção, no passado, de “culturas” no sentido antropológico do termo: correlaciona distribuições discretas de artefactos com fronteiras de territórios ocupados por “povos”. Ou seja, faz equivaler “culturas arqueológicas” a “culturas étnicas”. Através deste passo, a corrente histórico-cultural funda o conhecimento arqueológico moderno: o método de ordenação crono-espacial de conjuntos artefactuais, com o objectivo de se definir “culturas” , é aplicável em qualquer região do mundo. Esta corrente, contudo não supõe apenas um método de detecção de “culturas”. Ela contém, em si mesma, uma certa noção de passado, que aliás, se propaga ainda hoje em correntes de pensamento que se querem alternativas: essa noção de passado determina a compulsividade de se recuperar o “passado acontecido” em toda a sua particularidade histórica. Como se verá, para o sucesso desta corrente de pensamento, muito concorrerá o refinamento de métodos de registo arqueológico. Ou, se quisermos, sem um aparelho sofisticado de registo não se obtém uma cabal explicação histórica. A corrente histórico-cultural viverá sempre dependente dum registo arqueológico esclarecido.

Por outro lado, a corrente histórico-cultural entende que a mudança cultural é o resultado directo de processos de difusão e de migração populacional.

Na Europa da primeira metade do séc. XX, degladiaram-se duas grandes posições quanto ao centro inovador e difusor que, no passado, teria transportado “cultura e civilização”. Por um lado, temos posições autoctonistas europeias, de que a posição rácica de Kossinna será a mais relevante: para Kossinna, a região actualmente abrangida pela Alemanha teria sido esse centro difusor superior. A obsessão rácica dos povos arianos de Kossinna iria, como se sabe, ser usada posteriormente pelo regime nazi para legitimar os seus intentos políticos. Mas, em quase toda a Europa, e até no interior da própria Alemanha, durante este período, predominará a ideia de que o verdadeiro centro difusor se localizará no Mediterrâneo e no Próximo-Oriente. Tal ideia, que se ancora primeiro em Montelius e que será ampliada por Childe, vingará na grande maioria dos países e dos arqueólogos europeus da época. Na Alemanha, o Instituto Arqueológico Alemão, vocacionado para o estudo do brilho do Mediterrâneo e do Próximo-Oriente na época clássica, nunca encaixou verdadeiramente na ideologia nazi, que queria utilizar a arqueologia para realçar o papel dos povos germanos.

Também Hermanfrid Schubart adoptará, desde sempre, uma postura defensora do Mediterrâneo, como centro de difusão. Deste modo, Schubart vincula-se a uma concepção normativa de cultura que defende que a Europa terá sido colonizada, no passado, por uma das suas margens: o Próximo-Oriente.

Finalmente, gostaria de salientar o lastro da escola arqueológica alemã de matriz geográfica, desenvolvida nos anos 50/60, no pensamento e na prática arqueológica de Schubart. Esta escola encontra-se ligada a Eggers, que, nos anos 50, fundou a revista Archaeologica Geografica. Baseada numa crítica de fundo aos pressupostos interpretativo do método da “arqueologia do povoamento” de Kossinna, ou seja, baseada numa declarada rejeição do “paradigma étnico” de Kossinna, esta escola desenvolve o método cartográfico aplicado à arqueologia, e dá especial atenção à relação das estações arqueológicas com o espaço, esvaziando tais procedimentos de quaisquer explicações étnicas e muito menos rácicas.

· Quando Hermanfrid Schubart chega, em 59, à Península Ibérica, qual é o pano de fundo da prática arqueológica realizada em Espanha e Portugal? Não é este o momento oportuno para desenvolver a história da arqueologia nos dois países ibéricos ao longo do séc. XX. Creio até que, apesar de todos os trabalhos escritos, nomeadamente sobre a arqueologia espanhola (Díaz-Andreu, M., 1995, 2002), se encontra ainda por fazer uma reflexão profunda sobre o enquadramento histórico e sociológico que determinou o perfil e o peso relativo da arqueologia nestes dois países. É óbvio que, apesar do atraso global do desenvolvimento da arqueologia na Península Ibérica, em comparação com o resto da Europa, houve sempre, entre Portugal e Espanha, e antes do último terço do séc. XX, uma diferença marcante. Em Espanha, desde o início do séc. XX, que a Universidade formava quadros. Por ex, a escola de Barcelona, polarizada em torno da figura incontornável de Bosch Gimpera, forneceu alguns dos mais importantes arqueólogos espanhóis. Por outro lado, as escolas europeias de arqueologia, nomeadamente a francesa e a alemã, captaram muitos jovens bolseiros, ainda durante a 1ª metade do séc. XX, alguns dos quais se transformaram posteriormente em prestigiados arqueólogos à frente de diversas instituições. A somar a este florescimento endógeno, temos, em Espanha, desde sempre, a influência marcante de arqueólogos franceses, belgas, alemães e até ingleses. De salientar o trabalho desenvolvido no início do séc. XX pelos irmãos Siret – que tanto irá seduzir a própria investigação de Schubart – ou, já nos anos 40/50, a exemplar e histórica actuação de Georg e Vera Leisner, cujo trabalho, sobre o fenómeno megalítico ibérico, é ainda hoje um marco na história das pesquisas sobre tal problemática.

Face a este quadro de alguma efervescência espanhola – à parte as vicissitudes políticas determinadas pela guerra civil, pelo pós-guerra e pelo regime franquista, que, como é óbvio, se reflectiram no uso institucional da arqueologia em Espanha – tivemos em Portugal, até meados dos anos 70 do séc. XX (com excepções perfeitamente situadas) um longo período de estagnação (Arnaud, J. M.(coord.), 2002).

Creio que, em primeiro lugar, é necessário destacar a ausência, até muito tarde, duma escola universitária de arqueologia em Portugal, se exceptuarmos, desde os anos 60, a escola de Coimbra virada para o estudo do período romano e polarizada em torno das escavações de Conímbriga. As sinergias criadas entre o Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, através do Professor Jorge de Alarcão, e o Museu Monográfico de Conímbriga, dirigido pela Drª Adília Alarcão, fomentaram um pólo de investigação arqueológica absolutamente inédito em Portugal. Será útil questionarmo-nos sobre as razões que levaram outras instituições centenárias a não terem sabido acompanhar a partir de meados do séc. XX o “ar do tempo”. A verdade é que, durante a primeira metade do século XX, mas, sobretudo durante o pós-guerra, a arqueologia portuguesa viveu subsidiária de algumas intervenções pontuais, mas importantes, de arqueólogos estrangeiros (por ex., Jean Roche, Georg e Vera Leisner). A figura isolada de Eduardo da Cunha Serrão, um arqueólogo amador, com formação em economia, que rompeu com a ausência generalizada dum registo científico moderno em escavações arqueológicas emerge, nos anos 50/60, como retrato dum país onde o regime salazarista, ao invés de outros regimes totalitários, sempre marginalizou e destituíu a arqueologia de qualquer peso político e institucional.

É neste contexto ibérico que Hermanfrid Schubart irá investigar a partir dos inícios dos anos 60. Não será difícil, assim, aceitar, sobretudo em Portugal, pelas razões óbvias, mas também em Espanha, no que toca os estudos da Pré e da Proto-História, a existência dum período pré-Schubart e de outro pós-Schubart. Schubart, enquadrado pelo Instituto Arqueológico Alemão, através das suas investigações, operou uma verdadeira revolução na maneira de se fazer arqueologia na Península Ibérica. Após a sua intervenção paradigmática em alguns sítios emblemáticos, como por ex., Zambujal, Atalaia ou Fuente Álamo, instalou-se a percepção de que só valia a pena fazer arqueologia se fossem atingidos certos limiares de rigor e de questionamento. Com Schubart e seus discípulos – porque Schubart constituíu uma escola – nasceu, a partir dos anos 60, verdadeiramente, a base duma arqueologia moderna interessada na reconstituição da Pré e Proto-História ibéricas.

· Schubart abordou, ao longo de 45 anos de investigação, sobretudo quatro grandes temas: - as chamadas “fortificações” da Idade do Cobre (3º milénio antes de Cristo); - o denominado “Bronze do Sudoeste”, aliás, uma entidade cultural construída pelo próprio (2º milénio antes de Cristo); - o Bronze argárico do Sudeste espanhol (2º milénio antes de Cristo); - e a colonização fenícia (1º milénio antes de Cristo).

Em todas estas frentes Schubart actuou de forma coerente relativamente a dois princípios básicos: - qualquer paradigma teórico só é sustentável através duma exaustiva pesquisa de campo, plasmada em amplas e metódicas escavações arqueológicas; - a Península Ibérica foi, no 3º e no 2º milénio antes de Cristo, colonizada ou, pelo menos fortemente influenciada pelos povos do Mediterrâneo Oriental. De uma certa forma, Schubart faz projectar no passado pré-histórico e proto-histórico da Península, a “filosofia” que impregnava a actuação do Instituto Arqueológico Alemão em outras regiões do Mediterrâneo e do Próximo-Oriente: a Europa era herdeira do mundo mediterrânico; e era-o não apenas desde o período clássico, mas desde, pelo menos, o 3º milénio antes de Cristo. Schubart apelava assim a uma longa CONTINUIDADE de tradição cultural que teria jogado a favor da eclosão de “culturas” progressivas no extremo ocidental do Mediterrâneo.

- A temática das “fortificações calcolíticas” do 3º milénio encontrou fundamento arqueográfico nas escavações do castro do Zambujal, em Torres Vedras, entre 1964 e 1973. Tais escavações, em área, num sítio com tão grande amplitude, e com uma cronologia tão recuada, foram as primeiras do seu género, em toda a Península. Funcionaram como escavação-escola para estudantes de 14 países, tendo passado pelo Zambujal mais duma centena de estudantes alemães, portugueses e espanhóis. A metodologia seguida era tão revolucionária, para a época, que funcionou como modelo, durante as décadas seguintes, em múltiplas escavações da Península Ibérica.

Associado, nesta tarefa, a Edward Sangmeister do Instituto de Pré e Proto-História da Universidade de Freiburgo, na Alemanha, e respaldado, como sempre, pelo Instituto Arqueológico Alemão de Madrid, Schubart foi apoiado, institucionalmente, em Portugal, pelo Ministério da Educação da altura. Acentue-se que Fernando de Almeida, então catedrático de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, um homem do regime, mas cosmopolita, empenhou-se directamente junto do governo português na concretização destas escavações. A elas se deve Portugal ter ficado para sempre ligado a um dos sítios pré-históricos mais carismáticos da Europa.

Após a publicação, com Sangmeister, em 1981 (Sangmeister, E. e Schubart, H., 1981), da monografia das escavações do Zambujal, houve um longo vazio de intervenção nesta estação. A retoma de escavações no Zambujal, a partir de 1994, sob a coordenação de Michael Kunst, deve-se, no entanto, e mais uma vez, ao empenho de Schubart: uma espécie de último acto oficial, enquanto Director da delegação de Madrid do Instituto Arqueológico Alemão, dedicado a Portugal e à sua arqueologia.

O paradigma colonial, inscrito na teoria das “fortificações calcolíticas”, é talvez o paradigma durante mais tempo partilhado da Pré-História Ibérica. Durante as décadas de 60/70, autores como Sangmeister, Blance, Schüle, Kalb, Savory, Arribas, Martinez Santa-Olalla, entre muitos outros, defenderam a existência destes sítios murados, como resultado da implantação, em terreno estrangeiro, de “colonos” mediterrânicos vindos em busca do cobre ibérico (Jorge, S. O., 1994, 2003).

Schubart, no entanto, por diversas vezes, e tendo em conta os dados fornecidos pelas escavações do Zambujal, cedo advertiu para o cuidado que se deveria ter na utilização do termo “colónia” quando aplicado a este tipo de sítios. A preferência de Schubart pelo termo FEITORIA fala do desconforto que o mesmo sentia relativamente a um modelo excessivamente anacrónico. Mais tarde, durante os anos 80, no âmbito dum programa de investigação dedicado à recuperação das antigas linhas de costa (de colaboração com uma equipa de geólogos alemães), Schubart, usando a descoberta da localização muito próxima do mar destes sítios da Pré-História, interpreta-os como “praças portuárias” (Schubart, H., 1990). O paradigma das “fortificações calcolíticas” permanece, até hoje, como o sonho mais antigo do ideário de Schubart: a busca dum ponto, recuado no tempo, em que a Península teria sido pela primeira vez objecto da construção das primeiras grandes arquitecturas militares, fruto duma ampla transfusão cultural entre os povos mediterrânicos do 3º milénio.

- A temática do “Bronze do Sudoeste”, “cultura” do 2º milénio, situada no Sudoeste Ibérico, ocupou Schubart, em trabalhos de campo, entre 1962 e 1970. Durante este período foi escavada, em área, grande parte da necrópole de Atalaia, no Baixo Alentejo. Schubart publicará em 1975 um extenso estudo monográfico sobre esta “cultura”, que se transforma, rapidamente, numa referência bibliográfica para as investigações da Idade do Bronze da Península Ibérica (Schubart, H., 1975).

A definição do “Bronze do Sudoeste” está ancorada na cartografia e seriação de um conjunto de contextos e artefactos adstritos ao 2º milénio no Sudoeste da Península. Sobressaiem, entre esses contextos, os de índole funerária. Aliás, a escavação da necrópole de Atalaia, também inédita (em contextos desta época) em Portugal, será fundamental para fornecer um primeiro quadro da arquitectura sepulcral deste tipo de necrópole e dos seus ritos funerários.

A principal novidade da construção de Schubart reside (no âmbito de outros estudos regionais sobre a I. do Bronze) em ajudar a desmontar uma pretensa unidade cultural que se pensava que existia na Península Ibérica durante o 2º milénio. Com base na restrição da chamada cultura argárica ao Sudeste espanhol, Schubart (na esteira de Tarradell, por ex.) dedica-se à detecção, no Sudoeste, duma outra entidade cultural que, apesar de sofrer influências mediterrânicas, é certamente a entidade, estudada por Schubart, que apresenta maiores traços culturais autóctones.

- A temática do “Bronze argárico”, “cultura” também do 2º milénio, situada no Sudeste espanhol, ocupou Schubart, em trabalhos de campo, entre 1977 e 1999. O sítio eleito para uma intervenção de grande escala foi FUENTE ÁLAMO (Almeria), o qual foi estudado por Schubart em associação com Oswaldo Arteaga. Fuente Álamo, no domínio dos sítios pré-históricos, ergue-se, no final do séc. XX, como um dos lugares mais emblemáticos da Península Ibérica, como já o havia sido o Zambujal, escavado nas décadas de 60/70 do mesmo século.

Na senda das investigações dos irmãos Siret, nos finais do séc. XIX, Schubart executa, nas duas últimas décadas do séc. XX, com uma metodologia sofisticada e novos questionamentos teóricos, uma das mais ambiciosas intervenções arqueológicas na Península Ibérica. Em Fuente Álamo, povoado detentor duma estratigrafia com uma potência de 10 metros, Schubart exercita, em campo, o paradigma estratigráfico em todo o seu esplendor. Por outro lado, as escavações em área permitiram também aprofundar o conhecimento sobre rituais funerários, economia, proto-urbanismo e muitos outros aspectos da vida daquele sítio no quadro da chamada “cultura” argárica.

Em 2001, de colaboração com Oswaldo Arteaga e Volker Pingel, Schubart co-assina uma memorável monografia relativa às escavações de Fuente Álamo (Schubart, H., Pingel, V. e Arteaga, O., 2001). Em 2003, em associação com Thomas Schuhmacher, publica um estudo extenso sobre as cerâmicas deste sítio (Schuhmacher, T. e Schubart, H., 2003).

As relações do Sudeste ibérico com o Mediterrâneo Oriental, no 2º milénio, continuam a ser indiscutíveis para Schubart. Serão elas que justificarão as mudanças operadas, na mesma região, entre a “cultura” calcolítica de Los Millares e a “cultura” argárica da Idade do Bronze. Mesmo admitindo a origem autóctone dos povos argáricos, Schubart não concebe que as principais alterações observadas ao nível do povoamento, dos artefactos, dos rituais funerários, etc., não se devam a intensos movimentos comerciais operados no Mediterrâneo. A proximidade dos sítios argáricos, relativamente à costa, durante o 2º milénio, funciona também aqui como um argumento de peso para fundamentar este grau de interacção e mesmo de dependência cultural entre os dois extremos de Mediterrâneo.

- Finalmente, menciono a temática da colonização fenícia, cuja investigação de campo empenhou sobretudo Schubart entre 1964 e 1984 (Schubart, H., 1982, 1999, 2003). Escavações em “colónias” fenícias na costa mediterrânica peninsular como Toscanos e Morro de Mezquitilla abriram caminho ao desenvolvimento duma investigação sobre a existência da primeira “cultura” urbana, detentora de escrita, proveniente do Mediterrâneo, na Península Ibérica. O grau de interacção dos fenícios com as “culturas” indígenas do sul da Península, como a Tartéssica e a Ibérica, será objecto de continuado estudo até à actualidade. Com os fenícios, Schubart pode, sem receio de contra-argumentação, afirmar que “os intercâmbios unem os povos e contribuem para a configuração das suas culturas” (Schubart, H., 1989, p. 47). De facto, Schubart, durante toda a sua vida, procurou provar que esta máxima se aplicava não apenas aos povos com escrita, mas também às comunidades pré-históricas mediterrânicas.

· Se me pedirem para eu eleger o aspecto da obra de investigação de Schubart que considero mais inovador, mesmo a nível europeu, direi sem hesitação que é a sua noção de espacialidade.

Desde logo, porque Schubart introduz nas escavações dos sítios pré-históricos peninsulares, como Zambujal ou Fuente Álamo, uma estratégia de decapagem em área, que pretende fornecer uma imagem o mais possível abrangente, destes lugares. Esta opção tem custos de intervenção: pressupõe um estaleiro de obra a funcionar nos sítios arqueológicos, enquadrado por dezenas de técnicos e de trabalhadores braçais. Pressupõe ainda uma organização exemplar no registo arqueológico, uma vez que ele decorre em áreas muito distantes entre si que têm de ser coordenadas por um centro que as monotorize praticamente em simultâneo.

A decapagem em área, que se substitui à exclusiva escavação das sondagens, deixou marca na Pré-História peninsular. Los Millares, cuja escavação foi conduzida por um discípulo de Schubart, Fernando Molina, da Universidade de Granada, é um bom exemplo do sucesso deste paradigma das decapagens extensas para se poder raciocinar em grande escala. De certa maneira, as decapagens em área das mamoas do Norte de Portugal, realizadas nos anos 70/80, por Vítor Oliveira Jorge na Serra da Aboboreira, também decorreram duma aprendizagem que este investigador recolheu no castro do Zambujal nos finais dos anos 60.

Por outro lado, os sítios que Schubart aborda são sempre valorizados tendo em vista a especificidade da paisagem onde estão implantados: a topografia dos sítios na sua relação com a geo-morfologia do espaço envolvente; na sua relação com a rede hidrográfica e com a maior ou menor proximidade da costa marítima. Esta apetência de Schubart em olhar os sítios arqueológicos na sua relação com o espaço antecede, na Península, muitos estudos da chamada “arqueologia da paisagem” que se afirmaram a partir da década de 80 do séc. XX. Com Schubart aprende-se uma técnica fundamental do conhecimento arqueológico: a técnica de, alternadamente, baixar e subir de escala, num jogo interactivo em que é tão importante descer o mais próximo possível do artefacto ou da estrutura que se quer exumar e registar de forma exaustiva, como sobrevoar de avião a região em estudo, para observar o quadro dos possíveis naturais que condicionaram as populações do passado, como interpretar as múltiplas cartas geográficas ao dispor do arqueólogo, em ordem a inserir os sítios numa rede de possibilidades de circulação e de exploração de recursos que lhes confere densidade histórica.

Neste sentido, Schubart antecipa, em decénios, uma Pré-História do Espaço, mesmo que na actualidade esta expressão possa conter significações muito diversificadas.

· Finalmente, para terminar este já longo discurso, não posso deixar de afirmar que sempre me impressionaram as invulgares qualidades humanas do Professor Schubart. Uma mistura de grande generosidade e tolerância com um insuperável optimismo e uma fantástica vontade de viver confere à personalidade de Hermanfrid Schubart uma LUMINOSIDADE e uma FORÇA muito particulares. Quando se convive com o Professor Schubart, seja a ter uma discussão científica, seja numa visita de estudo, seja simplesmente a conversar sobre a vida, fica-se sempre tocado pela sua profunda humanidade.

Mas, ao mesmo tempo, o contacto com Schubart tem a qualidade de incutir, em todos os que entram na sua órbita, uma aura de confiança nas possibilidades criativas de cada um, que é próprio dos espíritos superiores. Há uma grandeza humana em Schubart que se estriba certamente na grandiosidade da sua obra científica, mas que a ultrapassa e também a potencia. Hermanfrid Schubart possui essa rara qualidade de funcionar como um poderoso comutador: promove ligações profundas entre pessoas, escolas de pensamento, instituições.

A Universidade do Porto, ao atribuir ao Professor Hermanfrid Schubart o grau de Doutor Honoris Causa, não só presta homenagem a uma grande personalidade científica, como fica ela própria honrada e enriquecida por poder, a partir de agora, incorporar o Professor Hermanfrid Schubart nas suas fileiras.

Ao futuro Doutor desejo vivamente que a sua relação fraterna com Portugal se intensifique sempre mais. Estou segura que este acto solene contribuirá para a inscrição perene, na nossa comunidade, duma invulgar obra científica e dum notável investigador.

Através desta inscrição, certamente ganharemos ainda mais consciência do contributo ímpar protagonizado pela acção insubstituível do Professor Hermanfrid Schubart na construção duma arqueologia ibérica e portuguesa modernas. Uma arqueologia capaz de questionar eficazmente o passado para saber produzir FUTURO.

Porto, 28 de Janeiro de 2005

Susana Oliveira Jorge


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*Discurso de elogio durante a atribuição das insígnias de Doutor Honoris Causa pela Universidade do Porto

* Heritage Department, Faculty of Arts (DCTP-FLUP), University of Porto.

susanaojorge@yahoo.com.br


Versão portuguesa do texto publicado noutra mensagem, em inglês

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